Nasci, por quê?






Há quase 30 anos dou aulas, para adolescentes de várias idades, (13 até 40 anos), e não raro fazem a pergunta por mim já esperada, ( talvez pela facilidade e o conteúdo da minha matéria que é História); "Por que nasci, qual a finalidade de minha vida, ninguém me entende, só eu sou culpado, estou sofrendo e ninguém vê....". E assim vai um mala inteiro de perguntas e choros. Claro que este drama é característico da idade. Também vale alertar a falta de significação da vida, ou pela vida, cada dia mais comum.
O primeiro impulso que tenho é acalmar a ansiedade, esta doença que ataca a cada ano mais e mais jovens e mais cedo.
Tento explicar historicamente que esta vida é assim: nascer, sofrer e morrer, que entre o primeiro ponto e o último temos milhares de chances de dar significado à vida.
Dou continuidade à minha fala como;retribuição de gentileza, respeito, fazer o bem e assim que termino, mais drama explode. Para eles fazer o bem são coisas grandiosas, (talvez devido a mídia), passeatas, interditar estradas, invadir o congresso pela ética na política, se jogar na frente de baleeiros, salvar a Etiópia da fome, resgatar os pinguins nas praias.
Tudo realmente de uma nobreza louvável, mas tão distante do chiclete colado na carteira, da folha arrancada do caderno e atirada em forma de bolinha só para "chamar" o colega, da latinha de refrigerante ao chão, furar a fila do lanche, ironizar o trabalho das senhoras da limpeza. Enfim, como sempre digo; para grandes egos, grandes "obras".
São incapazes de enxergar o óbvio, aquilo que realmente faz a diferença na vida não é encarada de maneira significativa. Observam a vida como se ela fosse eterna. Não percebem a retribuição cármica do processo desta vida, muito menos da finitude, se colocam como eternos. Não é que eles queiram, só não se comenta da morte com a juventude, aprofundando assim a falsa idéia de "vida eterna", aliás a morte é algo que só acontece com o outro, só a mãe do outro morre, só o filho do outro morre.
Bem para falar da vida obviamente devemos falar da morte, e que não temos a vida eterna para resolver "pequenos" problemas.
Os tesouros da vida são feitos de atos simples, que juntos revolucionarão o mundo. Pedir por favor, agradecer sempre, olhar a fome que está a seu lado. Lembrar que as folhas do caderno são feitas de árvores e centenas de pessoas trabalharam até chegar em nossas mãos. Honrar o trabalho de outras pessoas, o colega ao lado.
É na simplicidade, no compartilhar, no olhar além do próprio umbigo que a vida se revela. Um pãozinho não desperdiçado em sua mesa poderá matar a fome de muitos. Um sorriso de bom dia poderá salvar milhares de seres. Conheci muitos alunos que deixaram de cometer atos de crueldade com um simples por favor.
Os "pequenos" atos de bondade são na verdade os grandes atos que mudam o dia-a-dia da humanidade. Cada ato nosso reflete no universo de alguma forma, isto é viver. Ter a consciência e a responsabilidade de nossos atos, e que eles estão atrelados a tudo e a todos.

Comentários

Anônimo disse…
Adorei o post!=]
Mallika disse…
Oi.

Também sou/fui professora de História por trinta anos. E realmente preferia esses temas a figura pomposa do Rei Sol, as conquistas de Alexandre, os túmulos do Egito (sem tirar-lhes a importância como nossa raízes humanas).

Contudo via em cada ser a desesperanças, desamor, desatino, sem laços conscientes do passado ou as sombras do futuro, nem mesmo a compreensão do presente e do eu.
Muito bonito seu texto. Letras para “pensar”. Obrigada pela sua visita.

Mallika.
Paulo Celso disse…
Eu que agradeço a visita.

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